“Cantilenas em cantaria lavrada”, da poeta e artista plástica Gilda Uzeda, é uma enxurrada de inspirações escorrendo por todo o livro. O haicai, apesar da sua fragilidade poética se faz necessário transbordar…
O livro apresenta ao leitor nove tópicos. Típico recurso oportuno, escolhido pela autora para envolver a todos nesta leitura por uma poesia singela em sua forma, criada pelo grande mestre Bashô Matsuo, lá pelos idos do século dezoito, na terra do sol nascente.
A métrica do haicai apresenta o primeiro verso com cinco sílabas, o segundo com sete e o terceiro com cinco sílabas, fechando assim o poema, devendo ser respeitada para a construção do haicai autêntico (5-7-5). Senão, é poemeto.
A legião de haicaístas existente em Niterói é turbilhão; e aí incluo a autora destas cantilenas que, desde o ano de dois mil e cinco, já mostrara sua intimidade com essas “Três Linhas Apenas”.
E aqui, novamente a autora se apresenta:
São só frases simples: / Água regando a terra, / gotas de haicai.
Percebeu? É a corredeira levando páginas afora com toda a inspiração. Então, ela não se permite parar de fluir:
Fios de saudade / embaraçam-se na vida. / Será ao contrário?
As almas partidas, / os corações desunidos, / são pedras no peito.
Marcas perceptíveis numa leitura atenta, traz bons fluidos de sobrevivência atribuídos às palavras que penetram, minuciosamente, na alvura do papel.
Guerreiro da Luz / montado em seu cavalo. / Salve meu São Jorge!
Saci Pererê? / Deixa ele quieto pra lá. / Garoto levado.
Em busca de um futuro de paz, (re)constrói o leito vivo da margem. Viagem. E vibra. Quer reescrever palavras precisas que vão surgindo no pensamento para, na coragem de se mostrar, não esquecer jamais de prosseguir.
Tua solidão, / meu pinheiro, eu contemplo / em total silêncio.
Enquanto alenta, / o vento espalha sementes / da reconstrução.
Prestes a concluir o convite da “Cantilenas em cantaria lavrada”, de Gilda Uzeda, envolvo o verso à tela e antecipo, com naturalidade, este quadro otimista de uma cidade intimista, onde se pensa poesia, seja no esquadro do quadro seja na esquina do mundo.
Livre e natural, / a pintura ao ar livre: / Nictheroy e Grimm.
Lá vai o poeta / na esquina de Porto Alegre: / porto de Quintana.
Convoco todos para este encontro com o haicai, pois daqui sairão – poeticamente – mais apaixonados do que antes.
Paulo Roberto Cecchetti
poeta, curador, membro da ANL – Academia Niteroiense de Letras e idealizador dos projetos culturais “Escritores ao ar Livro” e “Estante Comunitária”.
Deixe um comentário